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Fragmentos

poema para uma menina antiga

 

recolhe a chuva para

que não fuja

com o tempo

amansa a chuva

para que não chore

sobre o mundo

enchente

desmanche a pedra

inunde a mata

mergulhe até o fundo

por isso abraça a chuva

para que o instante

surja

e cada grão da terra

sem nenhuma guerra

seja flor e ouro

poro água corpo

 

a casa

[tema para a colheita das águas]

 

no espelho

diante de meus olhos

reluz o barro da moringa

no segredo que guarda

a água

 

nós dois

     eu e o espelho

bebemos o tempo

bebemos as paredes

carpimos o vento

e a tábua

da madeira os móveis

as cadeiras

a mesa que resiste

feito alma

no meio da sala

 

e a mão que

antes derramava

a água espelhada

nos copos insiste

límpida banha

  • o sal dos minutos

lava

nosso corpo sobre

  • o rio se à noite

as corujas riem

piam ao redor

como fantasmas

 

que o tempo

na casa das horas

passa

e meu retrato

feito de água

é vidro

segue a carne do rio

e recolhe as folhas

no vestido

que a correnteza

espalha:

 

colhemos o fruto

comemos o pão

guardamos amores

lavramos o chão