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Fragmentos

 

Rivus

 

A água mede o tempo em reflexos vítreos. Mudez

de clepsidras, no sobrecéu ascendem (como anjos suspensos

numa casa barroca), e em presença de ausências o tempo

se distende. Uns seios de perfil, sono embalando

a rede, campânula encurvada pelas águas da chuva.

 

No horizonte invisível, dobras de anamorfoses;

sombras que se insinuam, a matéria mental.

 

Restis

 

Um vento anima os panos e as cortinas oscilam,

fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol passeia

a casa (o rosto adormecido), e em velatura a luz

vai desenhando as coisas: tranças brancas no espelho,

relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus volteios

curvos, vidros ao rés do chão reverberando, réstias.

Filamentos dourados unem o alto e o baixo 

 

– horizonte invisível, abraço em leito alvo:

velame de outros corpos na memória amorosa.

 

n      a           m      a     d     r

 

u       g     a    d     a             a

 

g     u     d    a               q     u

 

a      l              a     d     a     g

 

a         a               á      g     u

 

a          p       i      n      g     a

 

 

d    e    s    t    r   a    v    a    r       a       l    í    n   g 

 

u    a         d   o       t    r   a   v    o         d     u    m

 

a        f    r    u    t    a          á    c    i   d   a          :

 

á     r     i     d    a       d   a    r    i    a       d     i    a

 

m   e   n   t    e      :     c  a   n   t   á    r    i    d    a

 

 

III

 

 

a   m   o   r   a   m      a      s   o   m   b   r   a      n   a

 

m   o   r   a   d   a        d   o     i   p   ê        p   é   t   a

 

l   a   s       t   e   m    p   o   r   ã   s  ,        e        e   u

 

t   e          b   e   i   j   o          e   n   q   u   a   n   t   o

 

f   i   g   o   s         c   a   e   m        d   o         c   é   u

 

c     o     m     o              c     o     m     e     t     a      s

 

Refracta

 

para Vera e Milton

 

  • o segredo

 

do

 

a b r a ç o

 

e s t á

 

n a

 

g r aç a

 

d e

 

q u e m

 

f a z

 

  • o

 

a g r a d o

 

 

á g u a

 

r e c o r t a n d o

 

  • n a d o

 

d e

 

u m

 

p e i x e

 

s e m

 

d e i x ar

 

r a s t r o

 

para leminsky

 

junho 1989

 

penso e surpreendo dentro

esse peso suspenso

entre fuga e allegro

 

entre risos e abismo

resgato fragmentos

e vestígios do vértigo

 

(espreito, rima leonina,

as naus, bits e ítacas

de tuas russas cismas,

as lengua-lengas feras

de teus trobares raros)

 

entre sóis e êsseoésses

miro etrelas-desastres

e desorientes ferozes

rumo ao ouro quase-Órion

de um perhappiness

 

entre o novo e o velho

só vejo o vero fogo

que te tornou eterno

 

só vestígios do vétigo

desde que o caos

deixou de ser acaso

 

Disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana/josely_vianna.html

 

Rivus

 

A água mede o tempo em reflexos vítreos. Mudez

de clepsidras, no sobrecéu ascendem (como anjos suspensos

numa casa barroca), e em presença de ausências o tempo

se distende. Uns seios de perfil, sono embalando

a rede, campânula encurvada pelas águas da chuva.

 

No horizonte invisível, dobras de anamorfoses;

sombras que se insinuam, a matéria mental.

 

Restis

 

Um vento anima os panos e as cortinas oscilam,

fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol passeia

a casa (o rosto adormecido), e em velatura a luz

vai desenhando as coisas: tranças brancas no espelho,

relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus volteios

curvos, vidros ao rés do chão reverberando, réstias.

Filamentos dourados unem o alto e o baixo 

 

– horizonte invisível, abraço em leito alvo:

velame de outros corpos na memória amorosa.

 

n      a           m      a     d     r

 

u       g     a    d     a             a

 

g     u     d    a               q     u

 

a      l              a     d     a     g

 

a         a               á      g     u

 

a          p       i      n      g     a

 

 

d    e    s    t    r   a    v    a    r       a       l    í    n   g 

 

u    a         d   o       t    r   a   v    o         d     u    m

 

a        f    r    u    t    a          á    c    i   d   a          :

 

á     r     i     d    a       d   a    r    i    a       d     i    a

 

m   e   n   t    e      :     c  a   n   t   á    r    i    d    a

 

 

III

 

 

a   m   o   r   a   m      a      s   o   m   b   r   a      n   a

 

m   o   r   a   d   a        d   o     i   p   ê        p   é   t   a

 

l   a   s       t   e   m    p   o   r   ã   s  ,        e        e   u

 

t   e          b   e   i   j   o          e   n   q   u   a   n   t   o

 

f   i   g   o   s         c   a   e   m        d   o         c   é   u

 

c     o     m     o              c     o     m     e     t     a      s

 

Refracta

 

para Vera e Milton

 

  • o segredo

 

do

 

a b r a ç o

 

e s t á

 

n a

 

g r aç a

 

d e

 

q u e m

 

f a z

 

  • o

 

a g r a d o

 

 

á g u a

 

r e c o r t a n d o

 

  • n a d o

 

d e

 

u m

 

p e i x e

 

s e m

 

d e i x ar

 

r a s t r o

 

para leminsky

 

junho 1989

 

penso e surpreendo dentro

esse peso suspenso

entre fuga e allegro

 

entre risos e abismo

resgato fragmentos

e vestígios do vértigo

 

(espreito, rima leonina,

as naus, bits e ítacas

de tuas russas cismas,

as lengua-lengas feras

de teus trobares raros)

 

entre sóis e êsseoésses

miro etrelas-desastres

e desorientes ferozes

rumo ao ouro quase-Órion

de um perhappiness

 

entre o novo e o velho

só vejo o vero fogo

que te tornou eterno

 

só vestígios do vétigo

desde que o caos

deixou de ser acaso

 

Disponível em: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana/josely_vianna.html