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Fragmentos da obra

SÚBITAMENTE...

Súbitamente

romperam-se as comportas ciosamente vigiadas

impedindo-me guardar

por mais tempo

as revelações.

Pensamentos dispersos

foram aos poucos

se unindo

e as várias rimas surgindo

em descuidada cadência.

Já senhora não sou

de tantas emoções.

Ei-las libertas, vertidas.

LIBERTAÇÃO

Minhas mãos escravizadas

fizeram o gesto da prece

e sentiram-se libertadas.

COVARDIA?!

O cálice vazio e brilhante

transbordaste-o, Senhor,

de suor, de lágrimas, de sangue...

A purificação suprema

devo sorvê-la, devo;

por que não me atrevo

se a chama do mistério

dentro de mim

tão intensa

arde?

Demasiada é a graça

e tão pequenina sou

covarde?

SÚPLICA 

Senhor:

Sacode dos meus ombros

o pêso esmagador da desilusão

que me torna os membros lassos

e vacilantes e tardos os passos.

Afasta dos meus olhos

a névoa espessa da descrença

que me impede de ao caminhar

a segurança da meta vislumbrar.

Acalma de minha voz

o incontrolável tremor da amargura

que me tolhe de proferir

as orações que de mim esperam ouvir.

Substitui em minhalma

a tibieza deprimente da indiferença

que dia e noite minha crença consome,

pelo vigor da fé que justifica de humano ser o nome.

(Retirado de Súbitamente, 1971)