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Fragmentos

O SOFÁ

           

            Ah, o sofá! A história era “moeda corrente” entre os curitibanos.

            Todos comentavam a existência de um sofá na sala do governador, no Palácio Iguaçu.

            Simpático, acessível e mulherengo, sempre atendia solícito a todos que o procuravam. Creio que atendia aos seus pedidos com a maior boa vontade. Mas... as mulheres jovens e bonitas, muitas vezes eram “solicitadas” a usarem o tal sofá!

            Diziam que ele não escolhia: era jovem e bonita? “Estava no papo! ”

            Uma professora daqui era sempre escolhida pelas colegas com emissária junto ao governador.

            Uma tarde, uma adolescente pediu uma audiência e apresentou-se como sua afilhada. Entusiasmado com a juventude e “saúde” da menina, ele pediu que ela voltasse depois das 18 horas. O expediente encerrado e ele teria muito tempo para ela.

            Só as serventes encarregadas da limpeza foram testemunhas dos gritos e da correria pelos corredores, daquela mocinha assustada...

                   

                    OUVI CONTAR

 

            Um grupo grande de políticos e empresários costumava organizar bacanais aqui na cidade. Eles se divertiam convidando meninas para participar. A champanha “rolava” à vontade.

            As meninas (segundo me contaram), eram adolescentes de treze, quatorze anos. Sem roupa, ficavam sentadas, enquanto a champanha era derramada entre seus seios e os “homens” lambiam a bebida “lá em baixo...”

            Levado ao conhecimento do governador (não vou mencionar nomes) o que se passava, ele ameaçou processar toda a canalha.

            Na primeira oportunidade, o governador foi convidado a participar de uma reunião.

            Dias depois, ele recebeu uma fotografia onde ele mesmo aparecia de copo na mão, em meio a um bacanal.

            A foto fora tirada à traição, enquanto “meio alto”, ele olhava abismado o que se passava ao seu redor...

            Parece-me que algo semelhante fizeram com a senhora D.V., também figura conhecida internacionalmente, mais ou menos naquela época.

 

                    A FOFOCA

 

            A fofoca correu solta: dois eminentes políticos haviam se engalfinhado em luta corporal.

            Segundo o que se falava “a boca pequena”, o próprio governador do Estado agrediu e foi agredido por outro político conterrâneo e do mesmo partido.

            As divergências políticas deviam ter sido muito acirradas, para que duas figuras proeminentes no Estado chegassem a tal ponto de violência.

            Depois, muito sorrateiramente, a verdade emergiu. Foi por causa de mulher!

            A sala do governador fora invadida pelo tal “colega” de partido, apenas com o propósito de pedir satisfações pela “falseta”, pela traição, na conquista da mulher na qual ele mesmo estava interessado...

            Seria essa a verdade verdadeira?

 

                    A BOA FILHA

 

            A jovem professora só conseguiu aulas três vezes por semana. Mesmo assim, em outra cidade não muito distante da capital. O problema é que às vezes ela perdia o trem da tarde, e o seguinte só passava `as onze horas da noite.

            Preocupado com a segurança da filha e o falatório da vizinhança, o pai pediu-lhe que não usasse o trem da noite a fim de não chegar altas horas da madrugada, e, também, que não aceitasse carona de colegas. Seria mais sensato pernoitar em algum hotel da cidade e só regressar pela manhã.

            Muito boa filha, ela atendeu à orientação paterna: quando perdia o trem da tarde, não pedia carona para qualquer colega. Ela pernoitava em um hotelzinho, em companhia do colega casado...

(Retirados da obra Crônicas de Curitiba, 1998).