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Fragmentos da obra

Poema Demiurga


Agora é transitar por céus
mundos e submundos
esgravatar sem complacência
cada canto do meu corpo
boca, cotovelos, atrás dos joelhos
reavivar fantasias
desenhar devaneios
politizar os seios
esguichar líquidos, estimular
com língua hábil
todos os tipos
de lacunas, perguntas
profanar no boulevard
os pecados engolidos
e os direitos banidos
vulgarizar audácias bárbaras
ainda trancafiadas
em minha vida privada
sem benevolência, tornar-me pública
no quarto e na rua


Poema Quem dera Verônica fosse meu alter ego


Sobre o cavalo em disparada
Verônica levanta as ancas
eu grito
trêmula, inquiro:
Verônica!
que veias abertas são essas
vales vermelhos ao vento
encharcam como compressa
pimenta dedo de moça e pólvora
minhas áridas várzeas de bálsamo
meus ossos nervos e assombros
é bárbara que deseja combate
inimigos memórias poder e glórias
é valquíria amazona da morte
vândala leviana da sorte
entidade insana do norte
quer fazer dessa farrapa generala
de uma guerra que prenuncio perdida


Poema Arquitetas de Bombas Bárbaras


Godiva gengiva de ogiva
explode a prepotência do estupro
do gênero abjeto, inquieto
de desejos e palavras mínimas
grafadas na mina abandonada
sob as colinas em forma de seios
onde uma menina encarcerada
é dilacerada pelas lâminas frias
dos ventos de cerceamento
tão vivos em sua carne
quanto suas feridas uterinas
rasgos do machismo mórbido
asperezas são inscritas em seus braços
de trabalho árduo
desprovidos de adornos ocos
leões débeis escoltam a mulher
na rua
na escola
na lua
até os silêncios e abusos do bom comportamento
precisa reagir, megera magnética
esterilizar com sua saliva ácida
a libido dos predadores que pregam possuí-la
mas é apartada do consentimento
sobre seu corpo
não desassossega seu eu morto
pelos órgãos misóginos
cobertos pelo sangue sagrado
das mulheres miscigenadas
vestidas de monóxido de carbono e memórias
arquitetas de bombas bárbaras
atravessam eras
com seus vestidos vermelhos rodados
alquímicas esferas
alimentam o fogo
que transmuta meninas aprisionadas
em matriarcas
criadoras de linhagens insubmissas