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Fragmentos

Você já percebeu?

(Um poema para você)

 

O amor bailando nos olhos da pessoa amada?

A importância de uma palavra numa hora de tristeza?
O valor de um amigo?
O soprar da brisa entre as folhas das árvores?
A lágrima que deslizou pelo rosto de alguém?
O desabrochar lento e maravilhoso de uma rosa?
As árvores que parecem vultos com o anoitecer?
A beleza da chuva?
A ternura do sol?
A fé de quem crê no Criador?
A mensagem de um livro?
A beleza dos caminhos?
A pureza das crianças?
A vivacidade dos jovens?
A tranquilidade dos anciãos?
A grandeza do infinito?
A melancolia de alguém triste?
A felicidade num coração?
A importância do silêncio na hora certa?
A magia dos raios de sol por detrás de uma nuvem?
O ritmo dos pingos de chuva ao cair no chão?
O sussurro do vento?
A lágrima do tempo?
O riso da flor?
A agonia angustiosa de um coração?
A esperança do sol?
A necessidade do pobre e
A pusilanimidade dos ricos?

 

Aquele sorriso

(Sabor de infinito)

 

Se você deixar aquele sorriso bordado de ternura
Brincando em seus lábios
E tremeluzindo em seu olhar,
Qual miríade de estrelas,
A alegria irá subindo os degraus do meu coração
Até se aconchegar nas arestas do meu olhar,
E depois irá escorregando de mansinho
Até aninhar-se nos meus lábios
Que guardam e aguardam sempre
O toque dos seus, num meigo carinho.
Mas quando o sorriso foge dos seus lábios,
E as sombras encobrem seu olhar,
A alegria desce ao calabouço de meu coração,
E meus lábios desbotados
Já não conseguem mais sorrir,
E aconchegam somente a ausência dos seus,
E meu olhar fica vagando, perdido,
Tentando descobrir um jeito
De trazer novamente aos seus lábios o sorriso,
Para que o mundo fique mais brilhante e colorido,
Mesmo sob a maior tempestade...
Ou mesmo que o mundo se acabe...

 

Visita da chuva

(Sabor de infinito)

 

... E a chuva foi entrando pela janela aberta,
Cantando sua melodia preferida,
Colorindo a tarde com sua presença
Tranquila e reconfortante.
Mesmo assim, era tremendamente triste
Não conseguir apagar o sono
Que teimava em fixar-se na parede das pálpebras,
Ocultando o brilho cansado
Dos olhos inquietos que desejavam dormir...
Dormir lânguida e despreocupadamente.
Dormir com a certeza de que aquela chuva macia
Nosso sono velaria,
Tocando-nos, e transformando qualquer pesadelo
No mais colorido e calmo sonho...
Daquele sonho que semeava por sobre pedras
E de lá colhia as flores mais belas e perfumadas.
Daquele sonho que trazia no aconchego das mãos,
Uma miríade multicolorida de pássaros,
Colibris e borboletas...
Daquele sonho onde todos olvidavam o mal,
Metamorfoseando seus gestos em meiga bondade.
Daquele sonho que transformava qualquer ruído
Em partículas de ternura e suave melodia.
Daquele sonho que tinha o poder
De distribuir sorriso nos lábios,
E colocar alegria no coração das pessoas.
Daquele sonho pelo qual a alma suspirava
Para que fosse infinito
E a noite interminável...
Todavia, era tão suave sentir
O toque dos lábios úmidos da chuva no corpo,
Que os olhos se fechavam,
Deixando a alma evaporar-se
E ganhar as alturas...

SANTOS, Pompília Lopes dos. Sesquicentenário da poesia paranaense. Curitiba: Lítero-Técnica, 1985.