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Fragmentos

Errata 
(Novelos nada exemplares)


Lá vinha ele todo faceiro, chegava de mansinho e me tocava o corpo suado. 
Dias de folga, ele gostava de brincar: 
– Diz ócio! 
– Ócio! 
E assim o dia nos levava. Chegava a noite e nos encontrava mortos. 
Domingo. Ele vinha, de novo todo faceiro, e pedia o almoço. Me tocava, caso o almoço não estivesse pronto, e me levava para a cama.
Depois de minutos eu sentia meu corpo suado... 
Quando estava faceiro, ele gostava de brincar. Nossos corpos se juntavam, se separavam, juntavam-se de novo. 
– Diz ócio! 
– Ócio! 
– Diz ócio! 
– Ócio! 
De noite, nossos filhos nos encontraram no quarto: mortos! 
Errata: 
Onde se lê: faceiro, leia-se: cachaceiro. 
Onde se lê: tocava, leia-se: socava. 
Onde se lê: suado, leia-se: usado. 
Onde se lê: brincar, leia-se: brigar. 
Onde se lê: – diz ócio!, leia-se: Divórcio! 
Onde se lê: Ócio!, leia-se Ódio! 
Onde se lê: mortos, leia-se: mortos.

 

Tímpamen
(http://www.bestiario.com.br/25_arquivos/timpanem.html)


Ela, uma garota de treze anos. Ele, um homem de trinta. Se encontraram por acaso na rodoviária de São Paulo. Ele, retornando de uma palestra que fez no Rio. Ela, vindo do interior de Minas para ficar na casa da ex-patroa de sua tia. Olhares trocados rapidamente, nem palavra sequer.

O acaso levou-a a ser vizinha dele. Passavam dias apenas se olhando. Ele, observando a virgindade dos gestos, a inocência da curva dos quadris, as orelhas pequenas bem feitas. Ela, admirando o olhar experiente, a fala inteligente de quando conversava com a patroa. 

Um dia, aproveitando a saída da mulher, ele se aproximou do muro baixo e a chamou. Disse que havia necessidade de lhe dizer algo e pediu que ela lhe desse o ouvido. Ela, um pouco desconfiada, cedeu...

Ele, primeiro sussurrou seu nome e pequenos perdigotos umedeceram a concha, preparando-a.

Depois, sua voz, como vento aveludado, se insinuou nos labirintos de seus ouvidos, penetrando-a com as palavras eróticas nunca antes ouvidas...

Ela, extasiada com o prazer ouvido, entrou correndo na casa.
No dia seguinte ela acordou assustada: o filete de sangue ainda umedecia o travesseiro...