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Fragmentos da obra

"Fazer sacrifícios ao Guardião da Floresta não era apenas uma tradição. Era uma necessidade.
Embora parecesse incoerente com nossas crenças religiosas, o antigo costume se mantinha.
No passado, a misteriosa entidade havia sido chamada por nomes já esquecidos, e celebrada como uma poderosa divindade. Mas com o tempo, sua identidade foi sendo moldada pelas novas crenças. Muitas pessoas, especialmente as mais religiosas, secretamente chamavam o guardião de demônio, porém tal palavra fora proibida pelo padre, para evitar problemas com as autoridades da Igreja sempre vigilantes, buscando hereges e blasfemos.
Mas essa é uma longa história que terá de ficar para depois." (Trecho de Arddhu, parte 1 de A Trilogia da Floresta.)

"— Vó, como chora sem estar triste? — perguntou a neta, certa vez.
— A gente é mulher, Maria Rita. Sempre tem alguma coisa pra deixar a gente triste.
Maria Rita havia metido na cabeça que seguiria os passos da avó. Porém aquele não era trabalho para mocinhas jovens, explicou Brígida, várias vezes. A menina pensou por muitos dias e decidiu: iria estudar para ser médica então, médica legista, dizia ela com orgulho. Queria cuidar dos mortos, zelar por eles, como a vó fazia. Maria Rita tinha gosto pela morte. Não de um jeito ruim, mas daquele jeito dos povos antigos das histórias de sua bisavó. E com essa conversa toda, convenceu a avó a levá-la aos velórios." (Trecho de A Banshee)

 

"No centro do lago, havia uma formação rochosa semelhante a uma ilha da qual subia uma robusta coluna de pedra branca: o principal pilar que sustenta o mundo. E nele, enrolada e adormecida, havia uma monstruosa serpente negra, maior do qualquer outra que já tivesse existido."(Trecho de Das Entranhas da Terra, presente na antologia Dragões: Além do Bem e do Mal.)

"Em todas as viagens, sempre dizia que aquele trecho parecia ser infinito. Era como se ali os quilômetros finais fossem, de alguma forma, os mais extensos do trajeto.
“Ok, só mais um pouquinho.” Pensei tentando convencer meu corpo a se manter acordado. Minhas pálpebras pesavam. Pisquei uma vez com força e ao abrir os olhos, o carro estava parado, meio inclinado para frente. A chuva havia cessado e tudo estava escuro." (Trecho de PR 445, parte da Revista Diário Macabro, Volume 07)

Com o tempo, dominou muitas artes e sortilégios e os usava, ora por dinheiro e reconhecimento, ora por vaidade. Todavia, por várias vezes, o fez apenas para aliviar a solidão.
Os sonhos de riqueza desabaram ao longo dos anos, pois quando entendeu ser possível viver de seu conhecimento, compreendeu que seus desejos juvenis de fortuna eram estúpidos e só lhe causaram dor. (Trecho de Paredes de Vidro, conto presente na antologia Brasil Macabro)