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Bárbara Lia por ela mesma

Recordo, nitidamente, do momento em que desejei - pela vez primeira – ser escritora. Eu estava no balanço que havia em um cinamomo no quintal da minha avó. O pensamento foi tão forte que ficou aquela cena como uma foto esmaecida. Não pensei: Quero ser poeta. Achava trágico e infinito e quase inalcançável o mundo raro da Poesia. Eu cresci ouvindo versos de - Os Lusíadas – e os épicos de Castro Alves e Vicente de Carvalho. Eu não me imaginava compondo aqueles épicos. Eu desejei escrever histórias que levassem o leitor a outro espaço/dimensão, a lugares desconhecidos, como eu era levada por escritores que lia e achava incrível. Demorei décadas para afastar-me da vida burocrática, empregos que ocuparam diariamente minha mente, a vida que foi bifurcando por caminhos vários. Eu me aproximava dos quarenta anos quando comecei a rabiscar as primeiras histórias e poemas. E neste momento, décadas depois, eu sigo a compor esta obra entre prosa e verso. Dezoito livros impressos. Muitas poesias e alguns romances ainda não publicados. Na memória aquela certeza de uma garota à sombra de um cinamomo em uma primavera qualquer. Na alma o alimento – palavra - muitos poemas que li, os livros de autores de várias épocas e do mundo inteiro. Ser escritor é enlear-se em uma espécie de céu transmudado onde as palavras são as estrelas e onde elas brilham e te deixam estupefata. Eu não poderia ser Poeta que compõe algo que encanta, não tivesse bebido a Poesia de tantos que vieram antes de mim. Só agora eu entendo aqueles saraus privativos na sala de minha casa. Meu pai e minha avó a semear poemas épicos. Só agora eu me emociono com a sutileza de um pai que não ensina com a velha ladainha e sermões, tudo era dito em Poesia. Em evocação da Arte, esta fagulha maravilhosa que ajuda a encontrar o caminho para a humanidade plena. Se escrever foi o meu – adiamento - penso que desde sempre eu fui compondo palavras que só transcrevo agora, e que tudo é parte desta Poesia que é a Escrita. Esta maravilhosa Arte imprescindível.